O assunto hoje é diferente, sendo que vou abordar uma outra área de interesse na minha vida, no campo profissional. É um mero desabafo mas espero que seja do vosso agrado - caso contrário, passarei a ser um ser humano sem qualquer pingo de esperança...
Não me tornei jornalista com carteira profissional por uma unha negra. Os meus ex patrões decidiram desleixar-se completamente e acabaram por fechar portas. Era um jornal de pouca ou nenhuma projecção a nível nacional mas, aqui por todo o distrito de Setúbal, ainda deu muito que falar e meteu muita gente na ordem! Investiguei casos vergonhosos passados na Cruz Vermelha, no Banco Alimentar, em instituições para crianças e idosos... Cheguei a questionar presencialmente o ex-presidente Cavaco Silva com uma questão bem pertinente que ele preferiu contornar com um sorriso, sem se justificar, enquanto todos os canais nacionais registavam o momento.
Aprendi muito com experientes camaradas e tive imensa pena de não continuarmos a nossa jornada em conjunto, mesmo que só ganhando uns míseros trocos a recibos verdes.
A primeira coisa que aprendi foi que não podia armar-me em Manuela Moura Guedes na sua versão de jornalista, com discurso de estilo opinativo - importante ponto a reter para quem trabalha em Comunicação.
Fui atirada aos lobos logo nos primeiros dias, para conferências, reportagens, assembleias e reuniões. Recebi convites de vários partidos para configurar nas suas bancadas mesmo eles sabendo qual era a minha profissão. Obviamente, recusei sempre pois a minha ética impedia-me - e bem - de cair na boca do lobo.
Tinha fome de pesquisa e análise. O que aprendi jamais esquecerei, mesmo que não volte a exercer. Fica um longo lamento sobre o tanto que aprendi e o tão pouco que alcancei, não por suar pouco, mas por pouca sorte. Fecharem portas da noite para o dia, foi como se me tivessem cortado as mãos.
Hoje já não lamento tanto. Se recuarmos 15 anos, percebemos que Portugal não tinha grande tradição em tablóides na imprensa generalista, felizmente. Hoje, estão por toda a parte. Não, já não sinto que haja algo a lamentar por não dar notícias. As pessoas gostam mais de ler mexericos do que saber a verdade. Sinto uma absoluta vergonha pelo jornalismo precário que se pratica. Não fazer o que se gosta é triste, sim. Mas se fazer o que gosto implica, por mero exemplo, a obrigação de entrevistar as Marias Leais desta vida e fazer disso notícia... Não, muito obrigada. Vou continuar aqui no meu cantinho, onde posso opinar livremente, e que se dane a ética!
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