O Espaço das Aguncheiras continua a dar que falar, promovendo várias vertentes artísticas mas tendo no teatro o seu principal foco de acção. Aproxima-se a estreia da peça Rancor, exercício sobre Helena, cujos encenadores são a actriz São José Lapa e Alberto Lopes (na foto abaixo)
ACOLHENDO um vasto número de jovens talentos há já 4 anos, o Espaço das Aguncheiras continua a fomentar a transmissão de conhecimentos artísticos, através de constantes acções de formação, criação e produção, baseadas nas experiências de profissionais das várias vertentes – da música às artes plástica e, claro, o teatro.
São José Lapa é uma actriz e encenadora que dispensa apresentações. Muitos não saberão, porém, que possui uma forte ligação ao concelho de Sesimbra e, como tal, decidiu fazer das Aguncheiras um interessante espaço cultural. Situada na Azóia, bem perto do Cabo Espichel, aquela extensa área verde tem sido palco perfeito para diversas peças de teatro, bem acolhidas por numeroso público.
O novo projecto da cooperativa é a peça Rancor, a estrear no próximo dia 3 de Julho, na Fortaleza de Sesimbra, local que também acolherá a peça nos dois dias seguintes. Depois, o espectáculo será apresentado “em casa”, ou seja, nas Aguncheiras, nos dias 11, 12, 18, 19, 25 e 26 de Julho e, ainda, a 1 e 2 de Agosto. Sempre às 20h15 e por apenas 5 euros.
Como mentora do projecto, São José Lapa falou ao Notícias da Zona, explicando que, ao encenar esta peça, tal como as anteriores, tem enfrentado «algumas dificuldades económicas, para não dizer muitas! É a única queixa que temos, eu e o Alberto Lopes (também encenador da peça). O engenheiro Sócrates, inclusive, já fez mea culpa, reconhecendo que não apoiou a Cultura como deveria ter feito. Palavras para quê? Desde há 4 anos que me queixo deste problema, pois temos apresentado muito trabalho e, além disso, tenho um currículo que merece que olhem para ele. Não vivo por causa da Cultura, mas para o povo através da Cultura. E espero que, com o próximo Governo, as coisas melhorem substancialmente! Depois de ter o exemplo de outros colegas que estão a ser apoiados, por mais de metade das verbas que nós temos aqui, sem que ainda tenham apresentado qualquer trabalho, desejo que a Câmara Municipal de Sesimbra nos possa ajudar mais. Penso que quem está à frente de uma câmara tem de perceber que a memória do país deve ser preservada, seja junto das escolas, como temos feito, seja através da produção, no grupo de teatro».
Dez anos de espera
Para São José, apesar das dificuldades, a preparação desta estreia está a ser mais um grande contributo para a sua vasta experiência no meio, em que conta com a ajuda de Alberto Lopes, pai da sua filha, Inês Lapa Lopes. «Já fizemos muita coisa juntos! Há 32 anos, tinha a Inês um ano, formámos um grupo que partiu para Viseu. Era uma altura em que não havia tantos teatros como hoje, não havia nada! Quando regressámos a Lisboa, continuámos a trabalhar juntos. Por isso, conhecemo-nos bem, somos muito amigos e muito cúmplices do ponto de vista estético. É um grande profissional, de altos voos, com um grande conceito de espectáculo, mas, infelizmente, caiu no esquecimento de alguns. Mesmo assim, já foi condecorado por Jorge Sampaio, então Presidente da República. Portanto, é sempre uma mais-valia trabalhar com ele, para além de que o meu papel nesta peça é trabalhoso e precisava do seu apoio».
Valerie Bradell, Jorge Fraga e São José Lapa são os veteranos deste elenco que conta, ainda, com quatro jovens actores: Inês Lapa Lopes, Rui Pedro Cardoso, Paulo Pinto e João Paiva.
Hélia Correia é a autora do texto, que fala de Helena de Tróia, das relações familiares e das fragilidades humanas, através de uma abordagem a um dos mitos centrais do património cultural europeu, em que o principal desafio é lidar com as culpas do passado. A acção desenrola-se no pós-guerra de Tróia, onde Helena, filha de Zeus, enfrenta os primeiros indícios de decadência física. Como a própria sinopse descreve “no espectáculo, como na vida, a história (re)escreve-se pela perspectiva dos vencedores e tudo está bem quando acaba mal”. A título de curiosidade, São José recorda com humor que «esta peça foi-me oferecida pela Hélia há 10 anos, exactamente o mesmo tempo de espera da guerra de Tróia… Deve ter sido uma brincadeira dos Deuses!».
Um futuro recheado de Cultura
À parte do teatro e das formações nas várias formas de arte existentes, encontra-se ainda a decorrer no Espaço das Aguncheiras aquela que foi a sua primeira exposição, intitulada “Ga-linhas e outros habitantes”, que reúne obras de arte plástica de São José Lapa e João Paiva. É uma mostra de objectos da natureza, devidamente trabalhados, que poderá visitar por apenas 1 euro.
Destaque, ainda, para o facto de o espaço não ter rede eléctrica, funcionando à base de geradores o que, para São José e sua equipa, representa um outro obstáculo a ultrapassar, por ser extremamente poluidor. «Gostaríamos que alguma empresa nos disponibilizasse energia fotovoltaica, painéis solares, de forma a mostrarmos ao público, através das produções teatrais, que é possível funcionar num espaço à base de energias alternativas. Até agora, ainda não tivemos qualquer proposta, mas vamos continuar a procurar e penso que não há ninguém melhor que a própria EDP, que tanto promove as energias alternativas. Mas, em Portugal, quase tudo funciona muito devagar».
Quanto a projectos futuros, São José informou-nos que são imensos, adiantando que «à semelhança dos anos anteriores, vamos apresentar novos capítulos de Dona Redonda Parte III, para as crianças. Iremos, também, dar continuidade a um trabalho desenvolvido com professores e alunos, tendo os jogos dramáticos por base, sendo que este ano, trataremos das questões sobre o género (homem “versus” mulher). Em Setembro, voltaremos à Escola Michel Giacometti, na Quinta do Conde, onde já estivemos durante todo este ano lectivo, às segundas-feiras, para discutir o tema da sexualidade, através da obra Romeu e Julieta, para depois apresentarmos o espectáculo. E penso que, com pouco dinheiro… já é muita coisa!».
Por fim, fez um especial agradecimento à sua equipa de actores e colaboradores «que é maravilhosa», não esquecendo Carlos Avilez «um grande amigo que nos emprestou uma parte do guarda-roupa que faltava». Lamenta, ainda, o facto de «não termos conseguido um projector em lado nenhum, nem no próprio Cineteatro Municipal João Mota, de Sesimbra. Até é uma peça que também estará na Fortaleza, mas… nada! Temos esperança de que as coisas mudem e, tanto eu como a minha filha, somos de uma grande persistência». E não desiste de lutar, até porque «este é um projecto que tem razão de existir. As coisas são feitas com qualidade e uma coisa de que não nos podemos queixar é da falta de público, o que é extraordinário. Já chegámos a ter noites com 500 pessoas na assistência, algo que ultimamente já pouco se vê nos teatros em Lisboa».
São José Lapa é uma actriz e encenadora que dispensa apresentações. Muitos não saberão, porém, que possui uma forte ligação ao concelho de Sesimbra e, como tal, decidiu fazer das Aguncheiras um interessante espaço cultural. Situada na Azóia, bem perto do Cabo Espichel, aquela extensa área verde tem sido palco perfeito para diversas peças de teatro, bem acolhidas por numeroso público.
O novo projecto da cooperativa é a peça Rancor, a estrear no próximo dia 3 de Julho, na Fortaleza de Sesimbra, local que também acolherá a peça nos dois dias seguintes. Depois, o espectáculo será apresentado “em casa”, ou seja, nas Aguncheiras, nos dias 11, 12, 18, 19, 25 e 26 de Julho e, ainda, a 1 e 2 de Agosto. Sempre às 20h15 e por apenas 5 euros.
Como mentora do projecto, São José Lapa falou ao Notícias da Zona, explicando que, ao encenar esta peça, tal como as anteriores, tem enfrentado «algumas dificuldades económicas, para não dizer muitas! É a única queixa que temos, eu e o Alberto Lopes (também encenador da peça). O engenheiro Sócrates, inclusive, já fez mea culpa, reconhecendo que não apoiou a Cultura como deveria ter feito. Palavras para quê? Desde há 4 anos que me queixo deste problema, pois temos apresentado muito trabalho e, além disso, tenho um currículo que merece que olhem para ele. Não vivo por causa da Cultura, mas para o povo através da Cultura. E espero que, com o próximo Governo, as coisas melhorem substancialmente! Depois de ter o exemplo de outros colegas que estão a ser apoiados, por mais de metade das verbas que nós temos aqui, sem que ainda tenham apresentado qualquer trabalho, desejo que a Câmara Municipal de Sesimbra nos possa ajudar mais. Penso que quem está à frente de uma câmara tem de perceber que a memória do país deve ser preservada, seja junto das escolas, como temos feito, seja através da produção, no grupo de teatro».
Dez anos de espera
Para São José, apesar das dificuldades, a preparação desta estreia está a ser mais um grande contributo para a sua vasta experiência no meio, em que conta com a ajuda de Alberto Lopes, pai da sua filha, Inês Lapa Lopes. «Já fizemos muita coisa juntos! Há 32 anos, tinha a Inês um ano, formámos um grupo que partiu para Viseu. Era uma altura em que não havia tantos teatros como hoje, não havia nada! Quando regressámos a Lisboa, continuámos a trabalhar juntos. Por isso, conhecemo-nos bem, somos muito amigos e muito cúmplices do ponto de vista estético. É um grande profissional, de altos voos, com um grande conceito de espectáculo, mas, infelizmente, caiu no esquecimento de alguns. Mesmo assim, já foi condecorado por Jorge Sampaio, então Presidente da República. Portanto, é sempre uma mais-valia trabalhar com ele, para além de que o meu papel nesta peça é trabalhoso e precisava do seu apoio».
Valerie Bradell, Jorge Fraga e São José Lapa são os veteranos deste elenco que conta, ainda, com quatro jovens actores: Inês Lapa Lopes, Rui Pedro Cardoso, Paulo Pinto e João Paiva.
Hélia Correia é a autora do texto, que fala de Helena de Tróia, das relações familiares e das fragilidades humanas, através de uma abordagem a um dos mitos centrais do património cultural europeu, em que o principal desafio é lidar com as culpas do passado. A acção desenrola-se no pós-guerra de Tróia, onde Helena, filha de Zeus, enfrenta os primeiros indícios de decadência física. Como a própria sinopse descreve “no espectáculo, como na vida, a história (re)escreve-se pela perspectiva dos vencedores e tudo está bem quando acaba mal”. A título de curiosidade, São José recorda com humor que «esta peça foi-me oferecida pela Hélia há 10 anos, exactamente o mesmo tempo de espera da guerra de Tróia… Deve ter sido uma brincadeira dos Deuses!».
Um futuro recheado de Cultura
À parte do teatro e das formações nas várias formas de arte existentes, encontra-se ainda a decorrer no Espaço das Aguncheiras aquela que foi a sua primeira exposição, intitulada “Ga-linhas e outros habitantes”, que reúne obras de arte plástica de São José Lapa e João Paiva. É uma mostra de objectos da natureza, devidamente trabalhados, que poderá visitar por apenas 1 euro.
Destaque, ainda, para o facto de o espaço não ter rede eléctrica, funcionando à base de geradores o que, para São José e sua equipa, representa um outro obstáculo a ultrapassar, por ser extremamente poluidor. «Gostaríamos que alguma empresa nos disponibilizasse energia fotovoltaica, painéis solares, de forma a mostrarmos ao público, através das produções teatrais, que é possível funcionar num espaço à base de energias alternativas. Até agora, ainda não tivemos qualquer proposta, mas vamos continuar a procurar e penso que não há ninguém melhor que a própria EDP, que tanto promove as energias alternativas. Mas, em Portugal, quase tudo funciona muito devagar».
Quanto a projectos futuros, São José informou-nos que são imensos, adiantando que «à semelhança dos anos anteriores, vamos apresentar novos capítulos de Dona Redonda Parte III, para as crianças. Iremos, também, dar continuidade a um trabalho desenvolvido com professores e alunos, tendo os jogos dramáticos por base, sendo que este ano, trataremos das questões sobre o género (homem “versus” mulher). Em Setembro, voltaremos à Escola Michel Giacometti, na Quinta do Conde, onde já estivemos durante todo este ano lectivo, às segundas-feiras, para discutir o tema da sexualidade, através da obra Romeu e Julieta, para depois apresentarmos o espectáculo. E penso que, com pouco dinheiro… já é muita coisa!».
Por fim, fez um especial agradecimento à sua equipa de actores e colaboradores «que é maravilhosa», não esquecendo Carlos Avilez «um grande amigo que nos emprestou uma parte do guarda-roupa que faltava». Lamenta, ainda, o facto de «não termos conseguido um projector em lado nenhum, nem no próprio Cineteatro Municipal João Mota, de Sesimbra. Até é uma peça que também estará na Fortaleza, mas… nada! Temos esperança de que as coisas mudem e, tanto eu como a minha filha, somos de uma grande persistência». E não desiste de lutar, até porque «este é um projecto que tem razão de existir. As coisas são feitas com qualidade e uma coisa de que não nos podemos queixar é da falta de público, o que é extraordinário. Já chegámos a ter noites com 500 pessoas na assistência, algo que ultimamente já pouco se vê nos teatros em Lisboa».
Pode visitar o blogue do espaço em espacodasaguncheiras.blogspot.pt e, para reservar a sua entrada e assistir ao espectáculo basta enviar e-mail para aguncheiras@gmail.com, indicando o seu nome, o dia pretendido, número total de entradas e um contacto telefónico. A cooperativa aconselha, ainda, que leve roupa quente, uma vez que o espectáculo nas Aguncheiras faz-se ao ar livre e… só os Deuses saberão como estará o tempo!
Texto de: Sandra Mendes
Texto de: Sandra Mendes
Imagens: cortesia do Espaço das Aguncheiras
Publicado in Notícias da Zona (Edição N.º 151)
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