À SEMELHANÇA do que apresentámos na edição anterior, com a inédita entrevista aos candidatos do PS e do PSD à Câmara Municipal do Seixal, voltamos a seguir a mesma fórmula para abordar as questões relacionadas com o concelho de Sesimbra.
Os candidatos Francisco Luís, pelo PSD, e Américo Gegaloto, pelo PS, aceitaram o nosso convite para falar, entre outros temas, da esfera política reflectida na blogosfera. Inevitavelmente, o facto de ambos serem candidatos à presidência da Câmara Municipal de Sesimbra nas próximas eleições autárquicas não passou ao lado de um debate onde imperou a amizade e o respeito, mesmo quando os valores e ideais distintos de cada partido falaram mais alto. Desde um olhar sob o que foi e o que é, hoje em dia, o concelho de Sesimbra, passando pelas necessidades actuais da população, indo até aos projectos a implementar, tanto Américo Gegaloto como Francisco Luís mostraram-se firmes opositores do executivo actual, mas deixando claro que só a população poderá decidir o melhor para o seu futuro.
Notícias da Zona – Para quem ainda não conhece o vosso trabalho, quem são o Francisco Luís e o Américo Gegaloto? Qual tem sido o vosso percurso profissional até à actual candidatura às eleições autárquicas de 2009?
Francisco Luís – Sou empresário, em várias áreas de actividade. No âmbito político, sou presidente do Partido Social Democrata de Sesimbra, líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal e actual candidato do partido à Câmara Municipal de Sesimbra. O meu percurso político já é longo. Sou militante desde o dia em que fiz 18 anos, em 1983. Sempre estive empenhado no projecto social-democrata em Sesimbra, nas várias freguesias, e aquilo que espero é que um dia o PSD tenha a oportunidade de gerir uma autarquia do distrito de Setúbal, nomeadamente, no concelho de Sesimbra.
Américo Gegaloto – Resido na Quinta do Conde desde finais de 1976 e sou advogado de profissão. Entrei para o Partido Socialista em 1993, ano em que fui convidado a integrar a lista da Assembleia de Freguesia da Quinta do Conde, tendo sido aí que iniciei a minha actividade enquanto autarca. Já levo um mandato de assembleia na Quinta do Conde e três mandatos na Assembleia Municipal, sendo o líder de bancada do PS. No âmbito do Direito, tive um escritório aberto na Quinta do Conde mas, por convite, tornei-me responsável por um serviço na área de combate à toxicodependência, na qual exerço funções desde 2001.
NZ – São adeptos da blogosfera? Possuem algum blogue ou espaço cibernético que vos coloque na proximidade da população, de forma a cederem informação e, também, receber algum feedback?
A.G. – Não tenho qualquer espaço na blogosfera, apesar de já ter pensado em criá-lo mas, por várias razões, não o fiz. Acho que é uma nova forma de interagir com a população em geral, e existem vários blogues sobre o concelho que eu consulto e considero bastante interessantes. Reconheço que têm virtudes muito significativas e são, também, uma forma diferente de comunicar. Em contrapartida, trata-se de um universo muito ambíguo, uma vez que, na cobertura do anonimato, podem surgir intrigas, ofensas à honradez e bom nome das pessoas e, portanto, dispenso. Mas uma vez que vamos para um período eleitoral, o PS pretende lançar um site que terá um campo próprio para receber informações, contando com o contributo e as críticas da população.
F.L. – Partilho da opinião do Américo, na medida em que a blogosfera é uma boa ferramenta que um partido pode ter para fazer chegar as suas propostas, projectos, ideias e para haver uma partilha de informação entre os órgãos políticos e a população. De todo o modo, não ponho a blogosfera acima de outros meios de comunicação que temos. Os jornais também são uma ferramenta importante e, por isso, aproveito para saudar o Notícias da Zona pelo importante trabalho que tem desenvolvido, durante este mandato em que partilhámos diversos temas que interessam às pessoas. A grande desvantagem da blogosfera é que ainda não está democratizada, do ponto de vista da consulta, como estão os outros órgãos de comunicação. Evidentemente que o PSD terá um site de campanha para que, com toda a qualidade e no respeito por outras forças políticas, possamos aproveitar esse meio tecnológico.
Respeito pelo eleitorado
NZ – Sem querer mergulhar demasiado no vosso programa eleitoral, o que acham que podem trazer de melhor para o concelho de Sesimbra e quais são as prioridades?
A.G. – Nos mandatos em que tivemos o PS à frente na câmara, houve um aumento significativo de infra-estruturas necessárias ao concelho de Sesimbra. Neste aspecto, a Quinta do Conde destacou-se fundamentalmente ao nível de saneamento básico e pavimentação, mas também em equipamentos escolares e desportivos. O PS pretende imprimir uma marca de progresso, isto é, continuar a desenvolver o concelho, através de uma boa governação e de um desenvolvimento sustentável. Todos nós concordamos que é necessário haver mais escolas, mais saúde, outra rede de transportes públicos e mais apoios sociais. Este concelho é muito heterogéneo mas existem áreas que não têm certos tipos de coberturas e falo, concretamente, da freguesia da Quinta do Conde, nomeadamente a nível cultural.
F.L. – O PSD sempre teve um profundo respeito pelos munícipes e pelo seu voto. Ter respeito pelas nossas populações é, de certa maneira, tentar colaborar com os executivos eleitos, que é o que temos feito, quando nos revemos de alguma forma nesses partidos. Somos críticos quanto ao que não achamos ser correcto, por não ser o melhor caminho mas, acima de tudo, temos de ter respeito pela população e pelas suas opções. O PSD tem propostas concretas para apresentar, que visam modificar de uma forma significativa tudo o que tem sido feito até hoje. Acima de tudo, trabalhamos com respeito, inclusive, pela oposição, quer seja do PS ou do PCP, mas dadas as nossas diferentes ideologias, o meu partido tem sido bastante crítico em relação ao rumo que Sesimbra tem tomado. Não tenho dúvidas de que, se o PSD ganhar as eleições, muita coisa vai mudar.
Passado e futuro
NZ – Já que falamos em respeito pela população, como classificam as acções do vosso partido e da oposição?
A.G. – Podemos ser um pouco contundentes na defesa daquilo que entendemos que é o melhor para as populações do concelho, mas também não me passa pela ideia colocar em causa a votação das pessoas ou defraudar o que pensam, visto que vivemos em democracia. A lógica do PS é contribuir para o progresso do concelho de Sesimbra. Se não ganharmos as eleições, assumiremos integralmente as nossas responsabilidades e estaremos disponíveis para aceitar os desafios que nos forem colocados, no sentido de participar na gestão do concelho. Mas isto de participar na gestão coloca uma outra questão, pois deveríamos ter uma participação popular ao nível da gestão do concelho que, no fundo, é tudo menos popular!
Falo das Opções Participadas em que, a priori, já se conhecem as regras do jogo e já se sabe o que vai acontecer. Na verdade, não vai acontecer grande coisa. Para vos dar uma ideia do que acontece na Assembleia Municipal, digo que alguns dos documentos que foram aprovados por unanimidade ou por maioria não tiveram repercussão na vida das pessoas.
F.L. – Ganhando o PS ou a CDU, as políticas vão ser as mesmas. Isto para explicar que, do ponto de vista do PSD e de muitos eleitores do concelho de Sesimbra, o que aconteceu foi um pouco “vira o disco e toca o mesmo”. É óbvio que também partilhamos de muitas opções que o partido maioritário tinha e tem. Mas o certo é que o Partido Comunista, por questões ideológicas, e o Partido Socialista, por razões que ainda não consegui descobrir, não conseguiram dar um salto qualitativo a vários níveis. Estamos a falar de 35 anos de democracia, partilhados entre o PS e a CDU, onde o salto qualitativo não se viu. Neste momento, há um debate muito interessante sobre a questão do centro de saúde para a Quinta do Conde e, quanto a isso, não há nada que se veja! Só houve um partido que apresentou um projecto para resolver tudo isto, o PSD. Outra questão é a actividade económica, em que não existe um único plano estratégico para o desenvolvimento económico do concelho. Para concluir, o PSD vai apresentar excelentes ideias e projectos, para dar às pessoas o que precisam. Temos as pessoas certas para o concretizar.
A.G. – Tenho que fazer alguns reparos e dizer ao Francisco que, embora o PS tenha estado presente na câmara entre 1976 e 1997, foi muito difícil passar pelos anos de gestão da CDU. O processo só se começou a inverter no mandato de ‘93 a ‘97, onde se deu um desgaste mais acentuado da CDU. O PS conseguiu trabalhar para uma vitória ampla em ‘97, tendo-se aproximado muito da maioria já em ’93. Portanto, não fomos nós que gerimos o concelho desde o início. Foi a CDU que o fez, acabando por ser penalizada em ‘97, com a vitória do PS.
Sei o que era a Quinta do Conde em 1976 e, hoje, noto uma grande diferença. Tínhamos muito poucas ruas alcatroadas, algumas sem esgoto e outras com uma rede que não funcionava. No final do mandato do PS, faltavam apenas 10% de infra-estruturação, saneamento básico, águas e esgoto. Muitas outras obras têm o cunho do PS como, por exemplo, ao nível do Parque Escolar, com a escola do Conde 1 e o pavilhão gimno-desportivo no Conde 3. Em projecto estava o Parque da Vila, uma obra que apareceu agora no mandato da CDU, e que era um projecto mais ambicioso do que o que está ali. Tínhamos previsto um espaço multi-usos também na Quinta do Conde, com uma biblioteca de maior dimensão que a de Sesimbra, que a CDU, pura e simplesmente, pôs na gaveta. O património cultural arquitectónico que estava em decadência; a recuperação do Cineteatro; a criação da sede para a Assembleia Municipal, no Auditório Conde Ferreira; as estações elevatórias para abastecimento de água à população; a construção de um caminho para a constituição e participação da Simarsul e da Amarsul, para a recolha de lixo e tratamento dos afluentes e o cemitério na Quinta do Conde, enfim, tudo isto são marcas do Partido Socialista! Para falarmos em qualidade, também devemos pensar na quantidade de coisas feitas. É certo que ainda há muito mais por fazer e as freguesias, sendo muito heterogéneas, têm uma grande necessidade em vingar cada uma por si.
F.L. – Em resposta, direi que não passo o dia a ver o “Canal Memória”, apesar de gostar muito de recordar o passado… Percebo o que o Américo acabou de dizer mas, em relação a propostas para o futuro, disse zero! Assim como também não respondeu porque é que os equipamentos mais importantes para a população não estão feitos. Também não acho que, durante os executivos comunistas e socialistas, tenha havido uma criteriosa utilização dos dinheiros públicos. A noção que temos é que o dinheiro é gasto e, quando não há dinheiro, pede-se emprestado, porque alguém há-de pagar!
Eu garanto uma coisa: serão os nossos filhos a pagar esses erros, em impostos municipais e em falta de qualidade de equipamentos, que já poderiam estar feitos se as opções tivessem sido outras. O que o PS e o PCP fizeram foi gastar recursos, como se não fossem escassos. O PSD tentou solucionar, dentro das suas possibilidades, os problemas do concelho, nomeadamente no âmbito de uma área na qual não tem qualquer responsabilidade, e vimo-nos na obrigação de apresentar um projecto para a saúde, porque mais ninguém o fez.
A.G. – Sobre a questão da saúde, o PS defende que o projecto apresentado pelo PSD não faz sentido, porque deve ser o Serviço Nacional de Saúde a garantir as condições para que as pessoas possam ter esse acesso. Entendemos que não devem ser a população a pagar mais do que aquilo que já desconta. Quanto à utilização dos recursos, eu gostaria de saber como é que teria sido feita a infra-estruturação da Quinta do Conde sem a utilização desses recursos. Por isso, não vejo o endividamento da câmara, enquanto satisfação do interesse público, como um fatalismo, desde que a câmara tenha capacidade para resolver as suas dívidas.
F.L. – O PS está contra o nosso projecto de saúde porque acha que deve ser tendencialmente gratuito, como está na Constituição, só que não é! É por isso que deve ser feita alguma coisa. O PCP está também contra o projecto, por questões ideológicas. Ou seja, quer o PS, quer o PCP, estão pouco preocupados com a saúde dos habitantes do concelho de Sesimbra, que continuam à espera! Por último, em relação ao endividamento, o PSD votou favoravelmente os empréstimos e os relatórios de contas porque nada disso vai contra o nosso ideário. Não vamos chumbar orçamentos e relatórios de contas por questões políticas, porque isso é penalizar as populações.
Texto: Sandra Mendes
Foto: NZ
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